Os resultados apontam para um quadro preocupante, em especial às vésperas do primeiro turno das eleições de 2022.
Pesquisa inédita da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) mostra que os brasileiros estão com medo da violência política e que uma parte da população relata ter sofrido casos de violência política por conta de suas escolhas políticas e partidárias.
De acordo com a pesquisa “Violência e Democracia: panorama brasileiro pré-eleições de 2022”, 3,2% dos entrevistados, o equivalente a cerca de 5,3 milhões de brasileiros com 16 anos de idade ou mais, disseram que foram vítimas de ameaças por motivos políticos nos 30 dias anteriores ao levantamento. Outros 67,5% dos entrevistados afirmaram que sentem medo de serem agredidos fisicamente em razão de suas escolhas políticas ou partidárias. A pesquisa foi encomendada ao Datafolha pelas duas organizações e realizou mais de 2.100 entrevistas em todas as regiões do Brasil, entre os dias 3 e 13 de agosto de 2022.
Os resultados apontam para um quadro preocupante, em especial às vésperas do primeiro turno das eleições de 2022, e diante da escalada da violência política que tem atingido eleitores, candidatos e candidatas em várias regiões do país.
A boa notícia é que quase 90% dos entrevistados concordam que o vencedor das eleições nas urnas deve ser empossado em 1º de janeiro de 2023; 89,3% concordam com a frase “O povo escolher seus líderes em eleições livres e transparentes é essencial para a democracia”, e 88,5% concordam que ”O povo ter voz ativa e participar nas principais decisões governamentais é essencial para a democracia”.
Para compreender a percepção da população brasileira acerca da agenda de direitos – típica das democracias –, da adesão a valores autoritários e da satisfação e apoio ao próprio regime democrático, a pesquisa repete a investigação de dois indicadores criados pelo FBSP em 2017 – Índice de Propensão ao Apoio a Posições Autoritárias e Índice de Propensão ao Apoio à Agenda de Direitos Civis, Humanos e Sociais – e cria um novo índice: Índice de Propensão à Democracia. Os índices têm escala de 0 a 10 e são formados por diferentes dimensões com base em um conjunto de afirmações que medem o grau de concordância ou discordância do entrevistado.
O resultado do Índice de Propensão à Democracia, que mede o quanto as pessoas estão propensas a apoiar valores democráticos, como respeito às instituições e leis instituídas, separação dos poderes, deveres e direitos dos poderes públicos, processo eleitoral, liberdade individual e direitos humanos, foi positivo e atingiu 7,25 na escala. A pontuação é considerada alta pelos responsáveis pela pesquisa, em especial porque mais da metade dos respondentes registraram pontuação igual ou superior a 7 pontos, de 0 a 10.
”É comum pensarmos apenas nas eleições e no voto quando falamos em regimes democráticos, mas é preciso lembrar que as democracias existem de fato quando há condições para a participação efetiva dos cidadãos na vida política e cívica, o que é impossível numa sociedade dominada pelo medo, pela insegurança e que não sabe o que vai comer na próxima refeição”, aponta a cientista política Mônica Sodré, diretora executiva da RAPS.
SENSAÇÃO DE INSEGURANÇA
A queda nos números de mortes violentas no Brasil, que tem sido observada desde 2018, não foi capaz de ser percebida pela população como indício de sociedade mais segura e, de acordo com o estudo, a exploração do medo tornou-se arma política. O estudo mostra que o medo da violência cresceu desde 2017 – era de 0,68 numa escala de 0 a 1 e está em 0,76.
”A pesquisa reforça a centralidade da segurança pública no debate político, em que a violência e o medo aparecem como dimensões fundamentais para compreendermos a sociedade atual”, aponta Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. ”Apesar da queda do número de homicídios, outros dados reforçam que vivemos em uma sociedade violenta e com medo. E esse medo não parece descolado na realidade, sobretudo quando a pesquisa nos mostra que o equivalente a mais de 5,3 milhões de pessoas foram vítimas de ameaças por suas posições políticas somente no período que compreende os 30 dias anteriores às entrevistas do Datafolha”, explica. Com informações do site Bahia Notícias.