Médica que denunciou filho de Lula é afastada do trabalho após crise por vídeo com ofensas misóginas

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A médica Natália Schincariol, que denunciou o filho mais novo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Luís Cláudio Lula da Silva, por supostas agressões físicas e psicológicas, voltou a ser afastada do trabalho.

O laudo do psiquiatra menciona “sintomas depressivos” e associa “conflitos conjugais” ao caso. O afastamento é de 14 dias.

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Desta vez, o gatilho teria sido um vídeo publicado por Luís Cláudio nas redes sociais. “Obrigada pelas sábias palavras”, escreveu no Instagram ao compartilhar comentários de analistas do Brasil 247. O vídeo foi apagado depois.

Na gravação, os jornalistas fazem comentários pejorativos sobre a aparência da médica e a criticam por supostamente levar o caso a público indevidamente. Dizem, por exemplo, que ela faz a “linha BBB”, com “layout” de “bocão, harmonização facial e poses sexy no Instagram”. Comentam ainda que “a pessoa que preserva a sua intimidade tem o caráter melhor”.

A reportagem apurou que, depois disso, a médica teve uma crise de ansiedade no trabalho. Procurada pela reportagem, Natália não quis comentar o caso ou conceder entrevista. O blog também pediu um posicionamento da defesa de Luís Cláudio, que ainda não se manifestou.

Essa não é a primeira polêmica envolvendo o filho mais novo do presidente. Em 2010, Luís Cláudio fez comentários homofóbicos nas redes sociais ao chamar os torcedores do São Paulo de “monte de gay”.

A advogada Marília Golfieri Angella, especialista em advocacia familiar, explica que não é raro que mulheres que expõem episódios de agressão virem alvo de campanhas misóginas.

“Estereotipar uma mulher por sua aparência física, desqualificando seu discurso e colocando-a em uma posição de descrédito, não merecedora de atenção e cuidado, é deslegitimar toda a luta nacional e internacional pelos direitos das mulheres e pela igualdade de gênero”, afirma. “Para a violência doméstica, não existe ‘cara’, nem da parte agressora e nem da vítima”.

A especialista lembra que o Protocolo para Julgamento com Perspectiva de Gênero do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão que administra o Poder Judiciário, aponta que “por conta do contexto diferenciado vivenciado por mulheres, os danos à imagem e à honra aparecem de maneiras específicas diversas das do público masculino”.

“Nesse sentido, podemos compreender que as narrativas femininas sobre a violência de gênero são, por vezes, colocadas em xeque. Na dúvida, a mulher é culpada pela agressão que sofreu”, lamenta.

Para a advogada, ao denunciar o caso, inclusive publicamente, as mulheres têm uma chance maior de ver os agressores punidos, mas também de sofrer ataques à sua integridade mental e moral.

“É preciso termos em mente que as investigações dos casos de violência doméstica no Brasil chegam a durar muitos anos com total impunidade dos agressores, que seguem livremente suas vidas, enquanto suas vítimas tentam lutar contra o sistema em busca de justiça e de uma readequação de suas vidas”.

Entenda o caso

Natália e Luís Cláudio tiveram uma relação de dois anos, mas se separaram, segundo ela, após supostas traições do filho do presidente. A médica registrou boletim online Polícia de São Paulo e afirmou que, ao longo da relação, sofreu violência doméstica, ameaça, vias de fato, violência psicológica e injúria. A defesa de Luís Cláudio diz que as declarações são “fantasiosas” e que ele vai pedir reparação por danos morais. Em entrevista ao UOL, ele afirmou que “jamais ergueria a mão pra uma mulher ou faria qualquer tipo de agressão”.

O boletim de ocorrência cita episódios de violência, como uma cotovelada na barriga, e agressões verbais. Ela afirma que foi chamada de “doente mental, vagabunda, louca”. Segundo a médica, Luís Cláudio também fez ameaças para evitar que ela denunciasse as agressões.

A Justiça de São Paulo determinou que ele deixasse o apartamento do casal e concedeu medida protetiva que impede a aproximação da médica. Ela já prestou depoimento à Polícia Civil. O inquérito tramita na 6.ª Delegacia de Polícia Civil, no Cambuci.

 

Rayssa Motta/Fausto Macedo/Estadão

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