A construção de frentes amplas contra candidatos ligados ao presidente Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições municipais avançou em capitais como Fortaleza e Rio de Janeiro, mas empacou em Belém.
Nestas três capitais, o segundo turno terá candidatos apoiados publicamente por Bolsonaro. Marcelo Crivella (Republicanos), no Rio, e Capitão Wagner (Pros), em Fortaleza, receberam o apoio já no primeiro turno.
Nesta semana, Bolsonaro estendeu seu apoio ao candidato Eguchi (Patriota), delegado da Polícia Federal que superou nomes tradicionais da política paraense.
Em Fortaleza, o segundo turno vai opor Capitão Wagner a José Sarto (PDT), apoiado pelo prefeito Roberto Cláudio (PDT) e pelo governador Camilo Santana (PT).
Disputando a prefeitura da capital pela segunda vez, Wagner é deputado federal e ficou conhecido por liderar um motim de policiais no estado.
Apesar do apoio de Bolsonaro, tem evitado associar a candidatura ao presidente.
No primeiro turno, teve apoio de nove partidos, incluindo uns do campo conservador como o Podemos e o PSC. Agora não conseguiu ampliar o arco de alianças.
Nem o PSL, que cresceu no estado em 2018 com Bolsonaro, endossou sua candidatura. O deputado federal Heitor Freire, que terminou no primeiro turno em sétimo lugar, declarou neutralidade.
“Mantenho independência por não enxergar em nenhuma das candidaturas a defesa dos valores de direita e conservadores que acredito”, disse.
Já Sarto Nogueira (PDT) tem apoio dos demais candidatos derrotados no primeiro turno, incluindo Luizianne Lins (PT), Heitor Férrer (Solidariedade) e Renato Roseno (PSOL).
Assim, recebeu apoios que vão de partidos de centro-direita, como DEM ou PSDB, até esquerda, como PSOL e UP.
Ao anunciar apoio a Sarto, o candidato derrotado Célio Studart (PV) disse que não poderia se acovardar e deixar de se posicionar. “O outro projeto representa o avanço do bolsonarismo. Bolsonaro ganhar em Fortaleza é fazer daqui um palanque para sua reeleição.”
No Rio, o presidente apoia o atual prefeito e candidato à reeleição Marcelo Crivella, contra o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM).
Neste segundo turno, Crivella não teve sua candidatura endossada por nenhum partido. Paes obteve o apoio crítico do PT de Benedita da Silva e do PSOL de Renata Souza.
O candidato derrotado Paulo Messina (MDB) recomendou voto contra Crivella, como o PSB. “No Rio, importante é derrotar Crivella: além de ser o pior prefeito que o Rio já teve, é candidato de Bolsonaro. Primeiro turno é voto, segundo turno é veto: Crivella não”, disse o deputado federal Alessandro Molon (PSB).
O PDT, que disputou o primeiro turno com a Delegada Martha Rocha, ficou neutro.
O candidato Luiz Lima (PSL), que no primeiro turno atraiu parte dos bolsonaristas, declarou neutralidade.
Em Belém, onde o segundo turno opõe o ex-prefeito e deputado federal Edmílson Rodrigues (PSOL) e o Delegado Eguchi (Patriota), a tentativa de formar uma frente ampla contra o candidato bolsonarista não tem funcionado.
Eguchi foi uma das principais surpresas no primeiro turno. Disputando a primeira eleição para o Executivo e com pouco tempo de TV, ele conseguiu superar adversários como José Priante (MDB) e Thiago Araújo (Cidadania).
Agora, o terceiro colocado, Priante, declarou neutralidade. Já Thiago Araújo (PSDB), não se posicionou.
Eguchi segue linha parecida com a de Bolsonaro em 2018. Na campanha, prometeu gestão “sem viés ideológico”, secretariado técnico, disse não fazer parte da “velha política” e tem como principal bandeira o combate à corrupção.
Edmilson, que foi prefeito de Belém entre 1997 e 2004, quando era do PT, destaca sua experiência e reitera um discurso de que a cidade não deve embarcar em uma aventura.
Com o apoio de partidos como o PT e PDT desde o primeiro turno, ele deve receber o apoio do PSB, mas ainda não conseguiu respaldo de partidos ou candidatos derrotados do campo da centro-direita.
Em outras duas capitais, Vitória e Cuiabá, o segundo turno tem candidatos alinhados com as ideias de Bolsonaro, mas que não tiveram sinalização pública do presidente.
Em Vitória, o deputado estadual Delegado Pazolini (Republicanos), disputa o segundo turno contra o ex-prefeito João Coser (PT).
De perfil moderado, Coser teve apoio do PSOL e do PC do B, e negocia o apoio do PSB. O Cidadania não sinalizou quem apoiará.
Pazolini ganhou notoriedade na defesa de pautas de costumes e ficou conhecido ao invadir um hospital um dia depois de Bolsonaro ter estimulado a população a filmar oferta de leitos.
Na campanha, contudo, tem buscado se mostrar ponderado e procurou não se associar ao presidente. Neste segundo turno, recebeu o apoio da candidata derrotada Neuzinha de Oliveira (PSDB).
Em Cuiabá, o candidato bolsonarista Abílio Júnior (Podemos) enfrenta o prefeito Emanoel Pinheiro (MDB) e recebeu apoio do governador Mauro Mendes (DEM) e do ex-prefeito Roberto França (Patriota), que ficou em quarto colocado na disputa.