Como Geddel e o MDB ajudaram na virada de Jerônimo, por Raul Monteiro

Brasília - O ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, anuncia medidas para reduzir os gastos públicos (José Cruz/Agência Brasil)
Propaganda

Apontado como um dos pontos fracos de Jerônimo Rodrigues por adversários e alguns aliados, que sentem desconforto com sua presença cada vez mais ostensiva na campanha do petista, o ex-ministro Geddel Vieira Lima marcou uma virada nas perspectivas eleitorais do ex-secretário de Educação. Ele só não. Mas o MDB, que comanda junto com o irmão, Lúcio, e o presidente da Câmara Municipal de Salvador, Geraldo Jr. Até a chegada dos emedebistas no terreiro do PT para apoiar o candidato do partido, Jerônimo liderava um projeto mal ajambrado de candidatura, resultante de uma vexatória pouca crença do partido na viabilidade de sua própria continuidade no poder estadual.

Basta lembrar que seu nome subiu à bandeja sucessória de última hora, depois de um conflito entre os principais caciques petistas para decidir quem seria o candidato governista que levou à expulsão do PP do vice-governador João Leão do grupo e à negativa do senador Otto Alencar (PSD) de ir para o que se considerava então sacrifício de disputar a eleição ao governo. À exceção de Leão, cuja ambição política sempre fora motivo de desconfiança na turma, nenhum deles acreditava, na época, na mais remota chance de o PT ou algum partido da base fazer o sucessor depois de quase 16 anos de gestão petista à frente da administração estadual.

Propaganda

Como mais descrente no projeto despontava, surpreendentemente, a figura do governador Rui Costa, que, responsabilizado pelo senador Jaques Wagner por não ter preparado um nome para sucedê-lo, como ele fizera oito anos antes, passara a costurar, nos bastidores, sua candidatura ao Senado numa articulação com Leão. O plano forçara Wagner, mesmo contra a vontade, a colocar seu nome no tabuleiro para impedir a desagregação do grupo e evitar que, pelas mãos do partidário, o líder do PP, que poderia assumir o comando do Estado com a renúncia do governador para concorrer ao Senado, assumisse as rédeas do processo.

Em seguida, o senador se retiraria da disputa para impor uma candidatura do seu partido que ainda nem sabia qual seria. Após brotar pelas mãos da cúpula petista, o nome de Jerônimo seria finalmente sacramentado, não antes de enfrentar a concorrência da parte de partidários como Luiz Caetano, chefe da Casa Civil, e Moema Gramacho, prefeita de Lauro de Freitas, o primeiro igualmente descrente na eleição, mas certo de que a posição de candidato ajudaria a eleger a mulher, Ivoneide, à Câmara dos Deputados, e a segunda, como ele, com pouca fé na vitória, mas convencida de que a candidatura poderia dar-lhe uma projeção no Estado capaz de lhe abrir novas portas.

Mesmo depois de chancelado pelo partido, Jerônimo viveria uma verdadeira via crúcis para encontrar um vice, batendo de porta em porta com um convite que ninguém aceitava, até que o MDB, sentido-se há muito tempo marginalizado no grupo de ACM Neto, deixaria o candidato adversário do União Brasil e indicaria o presidente da Câmara para a vaga, injetando um ânimo inesperado na chapa do petista, em cuja campanha engajaria-se de corpo e alma. Em troca, Geddel receberia não apenas secretarias no governo, mas um passaporte para buscar sua reabilitação política depois da prisão motivada pela descoberta, em 2017, de um bunker com R$ 51 milhões atribuídos a ele.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*

Propaganda

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui