PT ‘abandona aliado’, e atual prefeito consolida favoritismo em Salvador, diz O GLOBO

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Criticado por adversários políticos por ter feito uma administração voltada para a orla e as áreas turísticas de Salvador, o prefeito Bruno Reis (União Brasil) fez da campanha à reeleição o que seria o antídoto aos principais ataques à gestão. A agenda tem sido totalmente voltada para compromissos na periferia, onde conta com apoio de lideranças comunitárias e mais de 500 candidatos a vereador. O mandatário está à frente com folga na disputa, segundo as pesquisas.

Apesar de o PL estar na aliança, Reis procurou se afastar do ex-presidente Jair Bolsonaro e construiu uma estratégia descolada do discurso ideológico da direita ou da esquerda.

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Integrantes da campanha do principal adversário, o vice-governador Geraldo Júnior (MDB), admitem que essa postura faz o prefeito avançar sobre o eleitorado de esquerda. O PT apoia a candidatura de Júnior, assim como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é usado com frequência na propaganda eleitoral.

A estratégia, no entanto, tem barreiras: Lula não se engajou na campanha, assim como o ministro Rui Costa (Casa Civil), outro ex-governador da Bahia, que tem se dedicado apenas a pleitos do interior.

A vantagem com ampla margem sobre o segundo colocado mostra que a tática do aliado de ACM Neto, de quem foi vice-prefeito, tem dado certo. Na pesquisa Quaest mais recente, Bruno Reis alcança 74%, Geraldo Júnior tem 6%, e Kleber Rosa (PSOL), 4%.

Investimentos

Reis repete em entrevistas e no palanque a atenção dada à parcela da população menos favorecida da capital baiana. Ele conseguiu alçar sua popularidade neste segmento.

— Eu vou todos os dias nos bairros mais distantes do centro, nas áreas mais periféricas da cidade, onde estão as pessoas mais carentes de Salvador, onde nós investimos 86% dos recursos da prefeitura. É lá onde está a nossa força — afirma Reis.

Driblando Bolsonaro, o prefeito só cita o ex-presidente para provocar o adversário e lembrar que Geraldo Júnior já fez elogios ao antigo ocupante do Palácio do Planalto, a quem declarou voto em 2018, além de ter chamado Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente e senador, de “amigo”.

O candidato do MDB rebate a acusação:

—Em 2018, eu não apoiei, eu votei (em Bolsonaro). Houve uma decisão do nosso grupo político. E nós tivemos a oportunidade, em 2022, de rever esses conceitos e posições. O mundo não para no passado. O mundo avança — disse Júnior.

Reis não pretende colar sua imagem à de Bolsonaro devido ao fraco desempenho eleitoral do ex-presidente na capital: 29% dos votos em 2022, enquanto Lula chegou a 70%. A adesão a Lula, no entanto, não se transfere ao candidato do grupo do PT.

Mesmo se apresentando como nome do atual presidente, o emedebista não teve desempenho de um candidato competitivo. Na reta final, a campanha do vice-governador trabalha na redução de danos até o dia do primeiro turno.

Uma das estratégias é enfatizar que o candidato é do time que reúne Lula, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) e o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), que já esteve à frente do estado.

Com derrota no primeiro turno já precificada, a meta é tentar chegar, pelo menos, a 20% dos votos. Reservadamente, integrantes da campanha reconhecem que a escolha do candidato foi um erro. Ex-presidente da Câmara de Vereadores de Salvador, Geraldo Júnior tem histórico de ligação com a direita e foi aliado de Bruno Reis e ACM Neto até 2022 — a aliança foi desfeita para ser vice na chapa de Jerônimo Rodrigues.

A campanha de Bruno Reis explora a mudança de lado. Petistas admitem que a ideia de que o emedebista não é uma pessoa confiável, reforçada na propaganda do prefeito, constrange a esquerda.

Outra consideração feita internamente é de que o histórico de direita do vice-governador não motiva a militância a ir às ruas, o que poderá se somar ao embalo da reta final de voto útil ao candidato que está na frente.

O candidato do PSOL na disputa, Kleber Rosa, aposta em dissidências na esquerda:

— Tenho recebido muito apoio, inclusive em segredo, de pessoas que dizem que vão votar em mim. A aliança feita pelo campo petista, que se ampliou para setores até da direita, se descaracterizou daquilo que a gente entende que é fazer uma discussão mais honesta das lutas sociais.

Por outro lado, a propaganda de Júnior tenta, sem sucesso, tornar Bruno Reis o candidato de Bolsonaro, já que o PL integra a aliança.

No cálculo da campanha emedebista, a esquerda em Salvador tem uma base eleitoral de 30% dos votos. Porém, nem nas aferições internas o vice-governador chega próximo a esse patamar. Este fato os convence de que o prefeito já avançou sobre parte deste público.

Mesmo com o desempenho tímido de Geraldo Júnior, o grupo do governador Jerônimo Rodrigues segue mobilizado. Secretários de estado têm feito agendas com o candidato.

Principal fiador da candidatura de Júnior, o senador Jaques Wagner esteve na última semana no comitê de campanha em Salvador. O parlamentar vem tentando motivar apoiadores e não largar a mão do emedebista até o dia da campanha.

Nome equivocado

Ao mesmo tempo em que integrantes do grupo de Wagner admitem que a escolha do nome de Geraldo Júnior foi um equívoco, buscam minimizar eventuais efeitos negativos de uma provável derrota nas urnas por uma margem larga de votos. A lógica usada por essa ala do PT é que o grupo perde eleições em Salvador desde 2012. Em compensação, completará, em 2026, 20 anos no comando do Palácio de Ondina, sede do governo da Bahia.

Segundo petistas, o partido está pagando na eleição municipal de 2024, com a candidatura de Geraldo Júnior à prefeitura de Salvador, a conta do apoio do MDB em 2022 a Jerônimo. Júnior não deve ser vice do atual governador em 2026, quando o petista tentará a reeleição.

Com a provável candidatura do ministro da Casa Civil, Rui Costa, ao Senado, o PT baiano já prevê que terá de ceder a vice ao PSD, do também senador Otto Alencar, aliado da legenda há 16 anos no estado.

Na última eleição, Jerônimo disparou na reta final do primeiro turno. No segundo turno, venceu ACM Neto (União) com 52% dos votos.

Principais candidatos

Bruno Reis (União Brasil): Candidato à reeleição, é afilhado político de ACM Neto, de quem foi vice-prefeito e secretário de Assistência Social. Também foi deputado estadual por dois mandatos. Apesar de estar aliado ao PL, o atual prefeito procurou se afastar do ex-presidente Jair Bolsonaro e construiu uma estratégia descolada do discurso ideológico da direita ou esquerda.
Geraldo Júnior (MDB): Foi vereador por três mandatos e presidente da Câmara Municipal de Salvador. Há dois anos se elegeu vice-governador na chapa de Jerônimo Rodrigues (PT). Apoiado agora pelos petistas para a prefeitura, tem histórico de ligação com a direita e foi aliado de Bruno Reis e de ACM Neto até 2022. A campanha do União explorou a mudança de lado.
Kleber Rosa (PSOL): É investigador da Polícia Civil e fundador do Movimento dos Policiais Antifascismo. Foi candidato ao governo da Bahia em 2022 e ficou em quarto lugar. No segundo turno daquela eleição anunciou apoio a Jerônimo Rodrigues.Na campanha para a prefeitura, tem apostado em dissidências na militância do PT.

Outro candidatos

Eslane Paixão (UP), Giovani Damico (PCB), Silvano Alves (PCO) e Victor Marinho (PSTU)

Principais temas

Segurança pública: A Bahia lidera, em números absolutos, o ranking de mortes devido a intervenções policiais em 2024, violência refletida em Salvador. As campanhas buscam reforçar a atuação da Guarda Municipal.

Desigualdade social: Diferenças sociais entre bairros da orla e do centro com a periferia da cidade, grande quantidade de pessoas em situação de rua e trabalhadores com ocupação informal pautam o debate eleitoral em Salvador.
Transporte coletivo: Corte de linhas nas periferias, sujeira nos ônibus e falta de ar-condicionado na frota estão entre os principais assuntos da campanha. Candidatos prometem melhorias e climatização nos ônibus.

O GLOBO

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