Em um áudio apreendido pelo Ministério Público do Estado de Goiás e divulgado na quarta-feira (24) pelo Jornal da Record, o padre Robson de Oliveira, ex-reitor do Santuário Basílica de Trindade (GO), admitiu que participava de um esquema para burlar contratos e tinha conhecimento do risco de ser preso pela polícia. Na gravação, o sacerdote diz categoricamente que é “o chefe da quadrilha”.
– Deixa um delegado meio doido começar a fazer pergunta pesada. Ai, gente, eu vou falar para vocês uma coisa. Isso aí é crime organizado […] E eu sou o chefe da quadrilha – diz.
De acordo com a reportagem, a gravação teria sido feita pelo próprio padre, durante uma reunião com advogados. No encontro, o líder religioso e a equipe jurídica discutiram estratégias para tentar camuflar a ilegalidade de contratos de compras feitas em nome de terceiros pela Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), presidida pelo religioso até ele ser afastado da instituição.
O áudio ainda mostra que o sacerdote e sua equipe reconheciam que os contratos poderiam ser alvos de investigação e que, inclusive, poderia haver dificuldades para explicar a relação da associação com negócios e investimentos imobiliários. Na conversa, o padre ainda dizia que estava “dando legitimidade a uma coisa ilegítima”.
– Eu estou dando legitimidade a uma coisa ilegítima, porque eu considero que foi estelionato aquilo lá. Os caras lá já falavam: “Olha, você vai passar, por fora, para mim, tanto”. Eu, de bobão… complicado isso aqui. Não está bom, não. Isso aqui é a mesma coisa de estar assinando um mandado de prisão – declara.
Em outros trechos, Robson assumiu que ele estava “enfiando a Afipe em um problema sério” e destacou também que uma apuração dos fatos poderia descobrir que os documentos contábeis sob sua responsabilidade apresentavam informações que não condiziam com os dados reais.
– Quando for apurar fatos, olhando nossa contabilidade, olhando nossa contabilidade do Júnior, do Gleison, vão ver que eles deram outra destinação aos valores, que não bate com datas e nem com nenhum tipo de… não tem jeito, gente – completa.
Na ocasião da conversa, o padre estava sendo investigado também por, supostamente, desviar dinheiro de doações de fiéis que eram entregues à Afipe para aplicações financeiras, compras de fazendas e de imóveis de luxo. O Superior Tribunal de Justiça (STJ), porém, decidiu suspender o inquérito policial e a ação penal contra o padre.
Confira abaixo a conversa entre o padre e a equipe jurídica divulgada pelo Jornal da Record:
Advogada (nome não divulgado): Da representação nos negócios de investimentos na área imobiliária. Isso é muito ruim.
Advogado Klaus Marques: Quer dizer, eu estou assumindo que eles eram seus representantes nos negócios e investimentos na área imobiliária.
Advogada: e rádios.
Padre Robson: Isso não é bom.
Advogada: De jeito nenhum. Isso é a pior coisa que o senhor pode fazer.
Alessandra (funcionária da Afipe): Isso aqui é péssimo também. Investimentos na área imobiliária, tendo em vista tudo que, de fato, todo mundo sabe que eles fizeram, foi o quê? Um roubo, né?
Padre Robson: O povo tem essa ideia, né?…
Alessandra: Está oficializando, está oficializando.
Padre Robson: …Eu estou dando legitimidade a uma coisa ilegítima, porque eu considero que foi estelionato aquilo lá. Os caras lá já falavam: “Olha, você vai passar, por fora, para mim, tanto”. Eu, de bobão… complicado isso aqui. Não está bom, não. Isso aqui é a mesma coisa de estar assinando um mandado de prisão.
Padre Robson: Ô, gente. Lá, no inquérito policial, basta eu apresentar um contrato de parceria contratual.
Klaus Marques: Padre, assim, eu vou pedir desculpas, mas é [sic] ilógico umas coisas aqui.
Padre Robson: Ô, gente. O meu medo nessas coisas aí chama-se… apuração dos fatos. Quando for apurar fatos, olhando nossa contabilidade, olhando nossa contabilidade do Júnior, do Gleison, vão ver que eles deram outra destinação aos valores, que não bate com datas e nem com nenhum tipo de… não tem jeito, gente.
Klaus Marques: Isso aqui é até perigoso ficar num computador.
Padre Robson: Eu estou dizendo é o seguinte: eu não posso ter isso aqui no meu computador. Eu troco a placa desse “trem” aqui loguinho.
Klaus Marques: Se apreende esse computador… Olha esse tanto de contrato feito, mas não assinado.
Padre Robson: Contrato feito e tudo mais, né, gente? Eu estou enfiando a Afipe em um problema sério.
Funcionária da Afipe: [A polícia] Vai prender o senhor.
Padre Robson: Deixa um delegado meio doido começar a fazer pergunta pesada. Ai, gente, eu vou falar para vocês uma coisa:isso aí é crime organizado.
Klaus Marques: É crime organizado, e o senhor é o chefe.
Padre Robson: E eu sou o chefe da quadrilha.