O pré-candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou ao jornal britânico Financial Times que, caso vença as eleições de outubro, sua prioridade imediata será melhorar as condições sociais do Brasil.
Questionado pelo veículo se ele pode matar os demônios da fome e da pobreza, o ex-presidente responde que, se conseguir este feito, ele “vai para o céu”.
Na entrevista, o petista falou que é comprometido com a responsabilidade fiscal e destacou que credibilidade, previsibilidade e estabilidade são as três “palavras mágicas” no exercício de governar.
Publicada nesta segunda-feira (11), a reportagem do veículo britânico diz que, para o empresariado, a questão central é entender qual versão de Lula estaria no poder. Se “o pragmatista econômico de seus primeiros anos” ou “o intervencionista mais ideológico que surgiu no segundo mandato”.
Para afastar dúvidas sobre um possível radicalismo, o petista aponta a escolha de Geraldo Alckmin (PSB) para vice na chapa como prova de sua moderação. Além disso, diz estar “mais experiente e com uma vontade muito maior de acertar”.
No entanto, o Financial Times afirma que Lula dá poucos detalhes sobre seus planos e destaca que, por mais que se tente trazer o olhar do petista para o futuro, ele prefere relembrar triunfos passados. “Lula prefere retórica exaltada a detalhes políticos”, diz a publicação.
Sobre as ações que pretende tomar caso vença as eleições, Lula reforçou ao jornal britânico algumas das afirmações que já vem fazendo em sua pré-campanha, como a proposta de revogar o teto de gastos, mudar a reforma trabalhista e o regime tributário para fazer os ricos pagarem mais impostos.
Na entrevista, Lula ainda prometeu trazer o Brasil de volta ao cenário global como uma grande potência ambientalmente responsável e socialmente consciente. “Temos que fazer da preservação da Amazônia uma prioridade”, afirmou, acrescentando que é preciso reduzir drasticamente o desmatamento e citando seu sucesso no primeiro mandato como prova de sua capacidade.
A Amazônia é um dos principais problemas para o presidente Jair Bolsonaro (PL) no cenário externo. Aumento do desmatamento e, mais recentemente, o assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips impactaram negativamente a imagem do país no exterior.
REVIRAVOLTA DO SÉCULO
No contexto político, o jornal britânico considera que uma possível vitória de Lula em outubro representaria “a virada política da década —senão do século”.
“Depois de ser libertado em 2019 por uma questão processual, Lula está agora à beira de uma segunda chance impressionante”, diz a publicação.
A reportagem afirma que, diante da exaustão de muitos brasileiros em função da má gestão de Bolsonaro da pandemia de Covid-19 e de uma interminável guerra cultural, Lula tenta persuadir as pessoas de que é um estadista capaz de trazer estabilidade política e tirar o país do buraco econômico.
Na entrevista, Lula disse que, após quatro anos de governo, Bolsonaro se tornou um pária da humanidade.
“Estou muito triste porque 12 anos depois de deixar a Presidência, acho o Brasil mais pobre”, diz. “Encontro mais desemprego, mais pessoas passando fome e o Brasil com um governo com baixíssima credibilidade dentro e fora do país”.
Questionado sobre os recorrentes ataques ao sistema eleitoral feitos por Bolsonaro, Lula rejeitou a possibilidade de uma intervenção militar ou crise pós-eleitoral, a exemplo do que aconteceu na invasão ao Capitólio dos EUA.
“Bolsonaro é alguém que blefa”, disse. “O presidente pode querer um golpe, mas ‘ficaria por conta própria’.”
Folhapress